Nov 9, 2009

Aquele que chora


Sonhos estilhaçados. Corações partidos. Deixo-os de lado, na tentativa de que eles se recuperem sozinhos. Busco momentos de lucidez em meio à loucura que minha vida se tornou. Até ver você. De mãos dadas. Com risos ritmados não com os meus. Suspiros uníssonos. Caçando sombras que não as minhas. Pensando não em mim. Rejeitando a minha existência na busca pela sua própria.

Uma cadeira. Uma solidão. Em meio ao vácuo, eu desejo. Anseio. Apenas peço que todo esse sentimento seja varrido. Eu te dei o meu melhor. Tentei. Nada mais resta a fazer.

E espero a última lágrima. Última. Antes de deixar tudo para trás. Vou me convencer de que posso mais sem você. Dessa vez. Parar de viver uma mentira. De esperar uma ilusão. De venerar uma companhia que não se mostra presente para mim. Eu ainda estou preso a esta última lágrima.

Eu estou aqui. Você não. Você está onde quis estar. Onde deve. Eu acho que nunca poderemos concordar. Enquanto o sol brilha em você, chove em mim. Por dentro. Sob meus olhos. Tenho que te evitar. Superar. Nada mais a fazer.

Mas ainda espero a derradeira lágrima. Liberdade. Encarar a mentira. De frente. E assim minha vida seguirá. Não pensando no que poderia ter sido. E sim no que foi. Se atendo as minhas atitudes, e não às considerações alheias. Até que a pureza singela de uma simples lágrima evapore as translúcidas amarras que prendem. Liberte aquilo que cativou.

- O que é isso em meus olhos?

[lágrimas]

Nov 4, 2009

Aquele que sonha [ não mais ]


Eu tive um sonho há tempos atrás. Sonho que se converteu em anseios de alterações profundas na realidade em que me encontrava imerso. Sonho demorado. Sonho longo. Sonho profético. Sonho que, apesar dos pesares, não pode ocorrer.

Sonhei com a vida. Com a minha.
Sonhei que amizades nunca morreriam.
Sonhei com Deus, e com seu perdão.

Até então eu era jovem e destemido, e meus sonhos eram feitos, usados e desperdiçados. Não havia, entretanto, resgastes a serem pagos. Nenhuma canção silente. Nenhum vinho não sorvido. Todas as ocasiões eram aproveitadas, todas as estrelas brilhavam.

Até que caiu a noite, e com ela eles chegaram [...] com vozes suaves como o mais relegado trovão, despedaçando esperanças e transformando sonhos alheios em vergonhas próprias. A escolha reside na aceitação, ou não, de verdades já provadas pelas efêmeras sombras do passado. O sacrifício de se optar. A exclusão da escolha. Uma história onde o Amor se converte em maior vilão. E as tão aparentemente sólidas relações são estilhaçadas sem dó nem piedade. Sem consideração.

Mas eu ainda sonho que as coisas vão melhorar. Sonho que tudo voltará ao normal. Que o glorioso passado se transforme em base para um futuro próximo. Onde escolhas não sejam necessárias. Onde provas sejam apresentadas, e cumpram seu papel de manter a segurança. A confiança. Eu ainda sonho que não existem abismos, que iremos nos reencontrar e que vamos viver nossas vidas juntos.

Mas há sonhos que não podem ser.
Há tempestades que não podemos prever.

Eu sonhei que a minha vida seria. . . tão diferente deste inferno que eu estou vivendo.
Tão diferente daquilo que parecia.

E agora a vida matou
o sonho que eu sonhei.

Nov 2, 2009

Aquele que coleciona memórias. . .


Meia-Noite. O mundo resta silente. A lua não brilha mais. Terá a Lua perdido sua memória? Esqueceu-se de seu fulgor. Triste, lamentável até, quando por apenas uma falha, o universo muda. Quando a confiança daqueles que eram puros torna-se dilacerada pelos tortuosos caminhos do destino. Então, nos vemos, mas não nos reconhecemos, posto que não sabemos ou temos receio de saber sobre o que espreita à sombra, sobre o que deixamos para trás, sobre o que ainda há para ser combatido.

A bela Lua tem consciência de seu brilho, de sua importância, mas, apesar disso, ainda insiste em não brilhar. Em alguns casos, a mera idéia racional do saber, da importância em si, não é suficiente. De que vale a razão sem o contra-ponto emotivo? Embora a racionalidade seja provida de conquistas, assim também é com a emoção. Como resgatar um sentimento? Como conferir segurança àqueles que se recusam a brilhar? [...] O escuro então impera. Sentimentos de luto e de mudança se agitam, trazendo novo alento a corações cansados por batalhas contra si mesmos. Por mais eterna, entretanto, que a noite possa parecer, sempre há de surgir um novo dia.

As lâmpadas da rua, únicos pontos luminosos dessa noite densa, piscam. Um aviso fatalista. Sussurros e lamúrios. Mas logo aparecerá a alvorada. Deve-se esperar pelo nascer do dia? Deve-se pensar em uma nova vida? Sei que devo partir. Agora, sinto-me assim também. Quando o amanhecer se aproximar, essa noite será apenas uma memória, e um novo dia surgirá.

Entenda-me. É tão fácil me abandonar, me deixar com apenas uma memória de dias ensolarados. Eu facilito esse tipo de comportamento, embora com ressalvas. Se você me entender, você vai sentir a essência da felicidade. A estrada encurtará, e encontraremos ao final dela quem nascemos para ser, o doce resultado de nossas decisões.
E com isso, nós. . . Oh, mas olhe. . . O dia já nasceu.

Aug 24, 2009

Aquele que se torna cruel . . .


O ser humano é uma criatura interessante. Auto-adaptável, somos capazes de nos modelar a qualquer situação, com o intuito de preservar a harmonia para com nossos pares. Somos capazes das maiores demonstrações estéreis e triviais de amor e consideração. Até que um dia, isso passa.

A amizade continua, a admiração, sorfedora de diversos golpes ao longo da relação, persiste. Então, o que mudou? o que permanecerá? Sou discípulo da teoria da intensidade: a intensidade dos momentos supera o tempo de longas relações, que não sobreviveriam a menor provação imputada a uma relação mais sólida, e solidificada é pelas barreiras que venceu, pelos problemas que resolveu. . .Embora adepto dessa teoria, nada supera o tempo, senhor das vaidades e eterno apaziguador das dores humanas.

Quando a chama se esvai, e as velas se apagam, quando a canção resta terminada, quando não há mais som, e os sussurros se tornam gritos, nos indagamos quando nos tornamos tão cruéis, quando tudo parou de valer os esforços e sacrifícios? Quando a cada início do dia, iniciam-se também os sentimentos que são portadores dessa relação, vem a idéia de que o pra sempre é super valorizado, e que nunca existiu. É inegável que o crescimento foi mútuo, recíproco. O aprendizado serviu a seu propósito, e tudo estava bem. . . o que poderia ter acontecido?

Acho que em alguns casos, alguns relacionamentos estão fadados ao insucesso, seja pela falta de um dos elementos mais edificadores em uma interação humana: a confiança. Feche os olhos, em quantas pessoas você seria capaz de confiar cegamente, no escuro? O número varia, a razão não. Munido desse fato, chego a considerar que as pessoas as vezes permanecem unidas pelo medo da solidão. Não seria esse motivo suficiente para levantar dúvidas acerca de relacionamentos que se convertem em defesas para as inseguranças alheias?

Quem de nós nunca ficou triste por um motivo, mas, por conveniência própria, preferiu ocultar esse mesmo motivo, e seguir em frente? Quem de nós não percebe que não pode mais acrescentar nada a uma relação, e que permanecer seria apenas para satisfazer egos alheios, e manchar lembranças tão bem guardadas? Devo admitir que são pensamentos recorrentes, que se aliam ao medo da entrega plena, da perda de consciência própria. . . Simplesmente algumas pessoas não merecem ser felizes. . . essa aparente noção de felicidade assusta, magoa, não se sabe lidar com ela, sabe-se apenas que ela existe, muito embora não entendamos o porquê. . .

Temos vivências que ninguém poderá retirar de nós, temos sentimentos que, pensava-se, eram compartilhados do fundo da essência individual, mas as vezes nada mais faz sentido. . . E voltamos à estaca zero, onde sonhos, vontades, personalidades são miscuídas em uma solução própria, onde a felicidade de todos é conquistada, com a perda de alguns poucos ingredientes, no início necessários, e agora apenas resíduos de algo que nunca foi destinado a ser...

Embora tente, debalde, ao escrever estas poucas linhas, aliviar os males do raciocínio, sinto que foi uma missão perdida. . . Este texto não serviu ao seu próposito e deve, como todo o resto, estar fadado ao descarte e ao esquecimento. . . lento, mas gradual.

Feb 22, 2009

Aquele que destroça expectativas...


Sempre considerei um erro criar expectativa sobre algo ou alguém. É de certa forma uma faceta pessimista, mas serve como um aparato de defesa em certos casos. Buda afirmava que a dor se originava de um erro de julgamento, e que removendo o julgamento, elminar-se-ia a dor. Indo um pouco mais além no silogismo, pode-se acabar com toda a etapa inicial apenas não julgando. Mas, se o julgamento é inerente ao ser humano, como resolver tal impasse? O método mais simplório conhecido é não criar expectativas, não fomentar laços, não se envolver.


Há situações, entretanto, em que tal procedimento não pode ser colocado em prática, seja por razões internas ou externas. E que invariavelmente, expectativas são criadas. A sábia raposa já avisava ao incauto princípe que ele seria eternamente responsável por tudo aquilo que cativava. Algo tão profundo em teoremas, mas impraticável na realidade. É a fria e gélida realidade mostrando suas facetas imbuídas de sonhos particulares e privados, onde expectativas não são sequer consideradas. O que importa é o real, nada mais, nada menos.


Assim, paramos e refletimos sobre o modo como damos sentido a nossas vidas. Como lidamos com os problemas e como reagimos a eles. Somos forçados por ações alheias a permanecer em um modelo estático e estéril, onde nosso modo de agir é tido por ideal. Se quando desviamos de nossa rota, somos penalizados, iremos contra o sistema ou regressaremos? As perguntas são muitas, mas poucas são as resoluções.


E assim, do mesmo modo que surgimos, desaparecemos em meio a situações cristalizadas pela soma perigosa do desrespeito e da falta de auto-crítica. Esvaindo-se então toda e qualquer possibilidade, ainda que remota, de atenuar as incompatibilidades. De passar por cima de erros que pensamos serem temporários, e na verdade são signos do caráter de um homem. Aceitemos as pessoas como são, apenas reservemos o direito de acolhê-las ou não. Eis aqui o último clamor, vívido ainda, de minha última tentativa.

Feb 17, 2009

Aquele que fornece a causa


Com o passar do tempo, percebemos nuances pálidas de um espectro que nos surpreende. Espera-se que uma relação madura atinja o estável, e não que a própria instabilidade seja estável. Embora opostos por essência, tais conceitos são bastante contíguos na hermenêutica social. Como fibras farfalhantes de uma mesma malha, que encontram pontos em comum de suporte e pontos onde invariavelmente deverão se separar, para dar continuidade ao tecido em si.


Por mais que queiramos, não podemos obliterar eternamente os erros alheios, garantindo assim uma amizade estável. Pior que a dor sentida na hora da decisão, é a dor implícita que sentiremos ao subjugarmos o nosso caráter para manter, ainda que de forma translúcida, a relação. A verdade é algo tão raro, tão escasso em nossos tempos atuais, que quando a mesma se revela, não devemos temê-la, e sim aceitá-la. É muito doloroso dizer um não a um simples apelo, a uma mera segunda tentativa, entretanto, é bem mais difícil renegar seus critérios de perdoável pelo simples emblema de perdoar.


Haverá, obviamente, aqueles que se oporão às decisões de sua'lma, clamando com brados de contemporaneidade o entendimento mútuo e a leveza do tempo. Mas só aqueles que perderam a imagem heróica, por eles construídas, de seres humanos, só aqueles que renegaram valores sociais, e enfrentaram o mundo para manter, ao menos em parte, o que se esperava deles, é que podem sentir o que nessas horas se sente. Todo o resto, sem exceção, passa despercebido, sem vontade, sem chama. A morte de um sentimento pela verdade mostra a irracionalidade de nossos atos, e até onde podemos ir simplesmente confiando na intuição e em metafísicas, renegando experiências de vida em prol da doce, porém ilusória, idéia de que dessa vez será diferente.

Feb 4, 2009

Aquele que corrompe


Acontece, em algumas raras ocasiões na longa trajetória de vida que tivemos, de nos depararmos com pessoas com um propósito. Pessoas estas que alteram nossa visão de mundo, e nos acrescentam valores que antigamente, por nós, eram ignorados. Toda noção de realidade parece ser abalada, e o futuro se desenrola como um carretel incerto, entretanto, necessário. Planos, emoções, a própria idéia de auto-conhecimento é massacrada. Raras são essas pessoas, que possuem tal poder, o de nos revitalizar, de nos trazer de volta para a flama da existência, uma que não seja maculada por preconceitos primários derivados de acordos sociais implícitos.


Mas, como tudo que é novo, assusta. E por mais triste que seja, até irracional, digamos, há resistência. Sócrates, por exemplo, foi condenado a tomar cicuta por "corromper" a juventude, através de questionamentos sobre a ordem das coisas. É bastante inteligível tal acusação, posto que havia uma hierarquia ameaçada. Mas, e quando seus próprios pares enfrentam a mesma situação? Não há hierarquia nesse caso, apenas uma trôpega sombra dessa instituição. Lamentável, não?


Ao fim do dia, nossa consciência nos indaga sobre o sentimento de culpa que sentimos. Afinal, entramos em vidas alheias, que não nos pertencem, com um intuito sóbrio de ajudar. Entretanto, não se pode oferecer uma solução quando não há o reconhecimento do problema. Então, estaríamos nós fadados a corromper aquilo que já estava corrompido? Estaríamos nós, necessariamente, presos em uma situação cristalizada pela ignorância, e até receio, da verdade?

Ao fim de uma experiência própria, percebo que a responsabilidade é minha. Mea Culpa. Afinal, eu que desafiei os papéis que alguns nasceram para interpretar, espaços que só por eles, por eles assim aceitos, poderiam ser preenchidos. Simplesmente há pessoas que não estão preparadas para a evolução, o questionamento, o conhecimento, seja de outrem ou próprio. E o lamento final, embora inaudível na atualidade, reverbará como um eco do vazio que sua vida se tornou, ao não explorar o potencial do que poderia ter sido. Viver assombrado pelas expectativas alheias é ruim, mas pior é viver sem ter como se livrar de suas próprias expectativas sobre seu modo de vida, sentindo-se impotente, enquanto o tempo passa, e a maturidade chega. Olhar para trás e perceber aquelas raras ocasiões de evolução, desperdiçadas pela nossa ígnorância, só fará crescer o abismo, cada vez mais notável, entre a pessoa que você é, e a pessoa que você poderia ter sido.

Feb 3, 2009

Aquele que mantém os preceitos


É comum ao início de cada relação o encanto mútuo. Tal como antigos desbravadores, um novo cenário de possibilidades - ainda que dependente da limitada quantidade de variáveis que explanam a conduta humana, nos é revelado.

E, de repente, quase que como um clímax súbito, a realidade destrona a expectativa. A angústia primária trazida graças a essa nova interpretação acompanha um sentimento de necessidade. Espera-se demais dos outros, quando os outros nada podem. Assim, toda a funcionalidade parece fadada ao descaso alheio, e a tão nobre batalha, sustentada por um só, parece carecer de sentido.

Não se busca o paraíso por acaso, e sim como uma locomotiva de voluntas social, incutida em nós através de ideologias que não receberam lastro pessoal. É inegável que toda experiência traga consigo frutos, sejam doces ou amargos. Por esse simples motivo, não cabe arrependimento nessas pueris linhas. É incrível a diversidade de sensações que se obtem quando atitudes tacanhas são transformadas em auriflamas consagradas pela tradição de relações mais longêvas em nome de uma hoste que prescinde de racionalidade.

Quando paro, parece-me que desviei-me de meu caminho. As vezes a impressão é a oposta. Mas um só nada pode contra o mundo que o criou. O afastamento, aparentemente inevitável, visto que faltam-me forças, traz consigo um misto de orgulho e desespero, que agora rememoram alvas brumas sobre uma laguna silente.

Eis a metáfora de minha vida. Ao menos, nesse instante.