
O ser humano é uma criatura interessante. Auto-adaptável, somos capazes de nos modelar a qualquer situação, com o intuito de preservar a harmonia para com nossos pares. Somos capazes das maiores demonstrações estéreis e triviais de amor e consideração. Até que um dia, isso passa.
A amizade continua, a admiração, sorfedora de diversos golpes ao longo da relação, persiste. Então, o que mudou? o que permanecerá? Sou discípulo da teoria da intensidade: a intensidade dos momentos supera o tempo de longas relações, que não sobreviveriam a menor provação imputada a uma relação mais sólida, e solidificada é pelas barreiras que venceu, pelos problemas que resolveu. . .Embora adepto dessa teoria, nada supera o tempo, senhor das vaidades e eterno apaziguador das dores humanas.
Quando a chama se esvai, e as velas se apagam, quando a canção resta terminada, quando não há mais som, e os sussurros se tornam gritos, nos indagamos quando nos tornamos tão cruéis, quando tudo parou de valer os esforços e sacrifícios? Quando a cada início do dia, iniciam-se também os sentimentos que são portadores dessa relação, vem a idéia de que o pra sempre é super valorizado, e que nunca existiu. É inegável que o crescimento foi mútuo, recíproco. O aprendizado serviu a seu propósito, e tudo estava bem. . . o que poderia ter acontecido?
Acho que em alguns casos, alguns relacionamentos estão fadados ao insucesso, seja pela falta de um dos elementos mais edificadores em uma interação humana: a confiança. Feche os olhos, em quantas pessoas você seria capaz de confiar cegamente, no escuro? O número varia, a razão não. Munido desse fato, chego a considerar que as pessoas as vezes permanecem unidas pelo medo da solidão. Não seria esse motivo suficiente para levantar dúvidas acerca de relacionamentos que se convertem em defesas para as inseguranças alheias?
Quem de nós nunca ficou triste por um motivo, mas, por conveniência própria, preferiu ocultar esse mesmo motivo, e seguir em frente? Quem de nós não percebe que não pode mais acrescentar nada a uma relação, e que permanecer seria apenas para satisfazer egos alheios, e manchar lembranças tão bem guardadas? Devo admitir que são pensamentos recorrentes, que se aliam ao medo da entrega plena, da perda de consciência própria. . . Simplesmente algumas pessoas não merecem ser felizes. . . essa aparente noção de felicidade assusta, magoa, não se sabe lidar com ela, sabe-se apenas que ela existe, muito embora não entendamos o porquê. . .
Temos vivências que ninguém poderá retirar de nós, temos sentimentos que, pensava-se, eram compartilhados do fundo da essência individual, mas as vezes nada mais faz sentido. . . E voltamos à estaca zero, onde sonhos, vontades, personalidades são miscuídas em uma solução própria, onde a felicidade de todos é conquistada, com a perda de alguns poucos ingredientes, no início necessários, e agora apenas resíduos de algo que nunca foi destinado a ser...
Embora tente, debalde, ao escrever estas poucas linhas, aliviar os males do raciocínio, sinto que foi uma missão perdida. . . Este texto não serviu ao seu próposito e deve, como todo o resto, estar fadado ao descarte e ao esquecimento. . . lento, mas gradual.
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