May 4, 2008

Aquele que não se arrepende


Todos nós temos momentos que não merecem ser lembrados. Momentos que devem ser esquecidos, ou pelo menos tentar ser esquecidos, com toda nossa capacidade intelectual. Quem nunca exagerou numa festa, quem nunca, num momento de calor, disse coisas que não devia, quem nunca tomou uma atitude desastrosa para com alguém. Algumas vezes simplesmente não há volta. É muito relativo (apesar de tudo ser absoluto em essência) isso, pois o perdão é algo muito pessoal. Muitas coisas podem determinar, ainda que genericamente, a condição de uma desculpa. A intensidade da amizade é primordial. Indiscutivelmente, existe a balança, onde você pesa os prós e os contras, dependendo desse resultado, existirá, ou não, a condição do perdão.
Todas as pessoas possuem traumas, coisas que não queremos lembrar, justamente pela associação desse evento com a dor sentida. A questão é definir o que deve reger o comportamento futuro. Não se pode ficar estagnado nos erros do passado, nem utilizá-los como desculpa para o auto-isolamento ou pior, a própria mutilação, ainda que em essência.
Pavlov foi o pioneiro no estudo do condicionamento psíquico. Mas o que raios é “condicionamento psíquico”? Simples! É a resposta somática para estímulos externos, associados habitualmente. De um modo mais claro, é associar uma ação a um momento, sempre! Pavlov comprovou sua teoria condicionando cães. A experiência em si foi muito inteligente: Todo dia, ao cair da tarde, Pavlov alimentava seus cães. Passou então a fornecer a comida junto com uma música. Fez isso durante um ano inteiro. Quando os cães ouviam a música, passado esse período, os mesmos se encontravam em estado de fome. Pavlov percebeu que toda vez que a música era acionada, independente do horário, havia suco gástrico no estômago dos cães. O próprio sistema digestivo dos animais havia se condicionado com a música, em questões de alimentação. Interessante, mas, qual seria a razão de trazer essa estória para o foco da crônica? Simples, o condicionamento não é exclusivamente somático, podendo ser também psíquico. Em vez de termos reações corpóreas, há reações mentais. Do tipo, ser traído uma vez e não querer entrar em novos relacionamentos. Sim, pode ser também um trauma, ou um complexo, situações que não cabem, per si, explanações no momento. O que se discute de valioso aqui é até que ponto somos condicionados pela sociedade e pela nossa própria noção de social e até que ponto ficamos presos a esses condicionamentos. Portanto, quando se erra para com alguém já maculado pelas sombras de traumas antigos, corre-se o risco de, se, em vão, tentar administrar a situação, já falida.