Feb 4, 2009

Aquele que corrompe


Acontece, em algumas raras ocasiões na longa trajetória de vida que tivemos, de nos depararmos com pessoas com um propósito. Pessoas estas que alteram nossa visão de mundo, e nos acrescentam valores que antigamente, por nós, eram ignorados. Toda noção de realidade parece ser abalada, e o futuro se desenrola como um carretel incerto, entretanto, necessário. Planos, emoções, a própria idéia de auto-conhecimento é massacrada. Raras são essas pessoas, que possuem tal poder, o de nos revitalizar, de nos trazer de volta para a flama da existência, uma que não seja maculada por preconceitos primários derivados de acordos sociais implícitos.


Mas, como tudo que é novo, assusta. E por mais triste que seja, até irracional, digamos, há resistência. Sócrates, por exemplo, foi condenado a tomar cicuta por "corromper" a juventude, através de questionamentos sobre a ordem das coisas. É bastante inteligível tal acusação, posto que havia uma hierarquia ameaçada. Mas, e quando seus próprios pares enfrentam a mesma situação? Não há hierarquia nesse caso, apenas uma trôpega sombra dessa instituição. Lamentável, não?


Ao fim do dia, nossa consciência nos indaga sobre o sentimento de culpa que sentimos. Afinal, entramos em vidas alheias, que não nos pertencem, com um intuito sóbrio de ajudar. Entretanto, não se pode oferecer uma solução quando não há o reconhecimento do problema. Então, estaríamos nós fadados a corromper aquilo que já estava corrompido? Estaríamos nós, necessariamente, presos em uma situação cristalizada pela ignorância, e até receio, da verdade?

Ao fim de uma experiência própria, percebo que a responsabilidade é minha. Mea Culpa. Afinal, eu que desafiei os papéis que alguns nasceram para interpretar, espaços que só por eles, por eles assim aceitos, poderiam ser preenchidos. Simplesmente há pessoas que não estão preparadas para a evolução, o questionamento, o conhecimento, seja de outrem ou próprio. E o lamento final, embora inaudível na atualidade, reverbará como um eco do vazio que sua vida se tornou, ao não explorar o potencial do que poderia ter sido. Viver assombrado pelas expectativas alheias é ruim, mas pior é viver sem ter como se livrar de suas próprias expectativas sobre seu modo de vida, sentindo-se impotente, enquanto o tempo passa, e a maturidade chega. Olhar para trás e perceber aquelas raras ocasiões de evolução, desperdiçadas pela nossa ígnorância, só fará crescer o abismo, cada vez mais notável, entre a pessoa que você é, e a pessoa que você poderia ter sido.

1 comment:

Kiran said...

Nossa Pio, como tu escreves bem..
Gostei do texto..
see you lad.....